sexta-feira, 30 de maio de 2014

terça-feira, 6 de maio de 2014

Palavras e Gestos

Castelo de Marvão

-Palavras, que palavras?

 - As que nos ferem,
 as que nos confundem,
as que são ocas,
as que nos rotulam,
as que nos apartam,
as que nos perseguem,
as que são mesquinhas,
as que são levadas pelo vento,
ou mesmo,
as que são malditas?

- Não.
As palavras que nos identificam,
as que são meigas,
as que nos unem na caminhada,
as que nos enlaçam,
as que nos enamoram,
as que nos aquecem o sangue,
as que nos estremecem a alma,
as que nos fazem sorrir,
as que nos encorajam,
as que nos curam, 
ou mesmo
as que nos fazem ter esperança
e que ficarão perpetuadas no tempo
que se esgota.

- E o gestos, que gestos?

- Os que nos apunhalam,
os que nos entristecem
os que nos desorientam,
os que nos fazem arredar caminho,
os que nos apagam a paixão,
os que nos derrubam,
os que nos revoltam,
os que não entendemos,
ou mesmo,
os que são vingativamente intencionais?

- Não.
Os gestos que nos cativam,
os que nos tornam amigos,
os que nos mostram muito mais,
os que nos levam para lá da banalidade,
os que nos emocionam,
os que nos apaixonam,
os que nos fazem sonhar,
os que nos tornarão imortais,
os que nos fazem parecer tolos,
os que nos roubam o sono,
ou mesmo,
os que sendo pequenos na acção
 valem mais
do que mil palavras.


Lúcia Papafina (abril de 2014)