quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

Crónica VIII - OS SERES SUGADORES DE FELICIDADE


O remorso de Orestes,
Com bastante frequência todos questionamos ao longo desta, cada vez mais, considerada efémera e frágil passagem pela vida: o que é a felicidade?
Com a depressão apontada como uma das doenças mais graves e comuns dos tempos ditos de modernos (fustigando novos, maduros e velhos) vulgarizam-se as prescrições de profilaxia e tratamento, com receitas intituladas de autoajuda e listagens de conselhos, uns bons outros assim-assim, que asseveram ser possível alcançar o elixir do bem-estar e, em fim último, o da felicidade. Para tal basta seguir o receituário prescrito pelos doutorados especialistas ou pelos entendidos nesta atual terapia designada de counseling.
Com tanta metodologia e prescrições, umas pagas chorudamente em workshops, outras gratuitamente adquiridas apenas ao navegar pela internet à distância de um clic, pergunto-me porque será que ainda existem SERES que, em vez de consultarem um especialista, ou/e se automedicarem ou/e, ainda, lerem uns quantos fabulosos artigos já publicados, canalizam as suas forças, energias (estas sim doentias) e massa cefálica a pretenderem curar a felicidade alheia com injeções de mentira, inveja, vingança, rancor e crueldade? Assumindo uma duplicidade de papeis/trajes, ora de vítima, ora de agressor.
Parece que, por estes dias, é mais grave ser-se feliz, ou pelo menos estar a bem com a VIDA, do que estar num estado depressivo-agressivo! Aparenta, e reforço, aparenta, que o bem-estar é mais preocupante do que o mal-estar individual! Causa mais indignação uma boa risada, do que o triste soluço mal disfarçado que asfixia e causa dor.
Será que estes SERES sugadores de felicidade estarão tão alucinados ao ponto de acreditarem que, tal como acontece numa transfusão de sangue em que os compostos se diluem numa mesma circulação, também eles conseguirão alcançar a panaceia da felicidade, sugando-a dos outros SERES? Será que estes SERES desprovidos de qualquer nobreza de sentimentos serão eles os vampiros do tempo presente? Intitulam-se vítimas da má-sorte e do abandono, mas agem como dominadores. Será que numa pobreza de carácter terão a ilusão de que a felicidade se rouba ou invés de se construir de dentro para fora, tendo como pilar a nobreza e autenticidade dos sentimentos, dos afetos, dos gestos e das palavras? Acreditarão que o próprio bem-estar se constrói sobre os despojos da dor de outrem?
A felicidade vai sendo o radioso reflexo da beleza interior de cada um.
Quando vamos na rua e tropeçamos numa pedra, umas vezes conseguimos manter o equilíbrio, outras vezes caímos. Aleijamo-nos com mais ou menos gravidade. Cuidamos da ferida para que ela não infete e cicatrize o mais rapidamente possível. Quando assim é somos SERES cuidadores de nós próprios. E contagiamos quem nos quer bem com esta alegre resistência. Somos SERES cuidadores do outro. Lutamos com garra para vencer a nossa dor, saramos as nossas feridas e seguimos em frente. Somos sobreviventes! Daí por diante, apenas seguimos já mais atentos às pedras que poderemos vir encontrar na nossa jornada. Aprendemos a caminhar seguro, não esquecendo a pedra que nos fez cair. Mas também não evitando todas as pedras que surgirão no caminho que só terminará quando a vontade de VIVER se desvanecer. Também não nos revoltamos com todas as pedras! Não as passamos a odiar! Aplicamos a unção da compreensão e do perdão, reconhecendo os nossos próprios limites e imperfeições. E somos fortes por isso. Acreditamos que estar VIVO é ir sempre afastando a meta, ultrapassando os próprios marcos, ambicionando a tão utópica mestria. Seguimos caminhando sempre na esperança de encontramos bons trilhos, bons companheiros de jornada, sem nunca perder a consciência do acidentado do percurso. Enfim! Construímos a felicidade da caminhada dentro de nós, por nós próprios e para nosso regozijo.
Os SERES sugadores de felicidade são SERES sem trilho! Sem ponto de partida e não estão construindo a sua meta-felicidade. Desconhecem o companheirismo. E são fracos por isso. Não curam de suas feridas! Tão pouco das feridas dos outros! Aprofundam-nas ainda mais, alimentando-se da dor que em si causam e naquela que julgam causar aos outros. São ELES a colocarem as pedras em seus próprios caminhos num frenético ziguezague que provavelmente os consumirá. Gastam seu potencial, não a construírem o seu bem-estar, mas a arquitetar manhosamente estratégias de sugar a felicidade que julgam ser sua por direito. Esgotando a sua efémera passagem por esta VIDA invejando a caminhada alheia. O seu tempo se apagará sem nunca terem tido, sequer, um pequeníssimo vislumbre da felicidade que é sentida quando somos construtores e vencedores da nossa própria caminhada.
Lúcia Gonçalves (dezembro de 2016)

Romances publicados

Adquira em:
http://www.edi-colibri.pt/Pesquisa.aspx?Action=PesquisaR&Query=O%20Monte%20das%20T%C3%ADlias

https://www.wook.pt/livro/o-monte-das-tilias-lucia-goncalves/17403881


https://www.amazon.co.uk/s/ref=nb_sb_noss/255-8574910-7507968?url=node%3D279751&field-keywords=o+Monte+das+T%C3%ADlias&rh=n%3A279751%2Ck%3Ao+Monte+das+T%C3%ADlias


terça-feira, 27 de dezembro de 2016

Outra forma de amar


Amo-te para além da carne.
O nosso amor
é um permanente carinho,
mesmo quando não estamos juntos.
Numa mútua aceitação,
de o consumarmos num mundo paralelo.
Na ignorância dos que me julgam conhecer,
amo-te com tal fervor,
que me sinto ensandecer.
No sentir-te longe,
quem sabe noutro aconchego,
sinto-te em mim, 
sacio minha fome de te querer.
Num sentimento correspondido,
amamo-nos noutra dimensão,
no reboliço de nossos sonhos.
Somos mais do que carne.
Amamo-nos com o olhar
que tanta vez nos compromete.
Unimo-nos quando nos afastamos.
És para mim o toque frio
do orvalho que refresca a madrugada.
Amo-te quando descobres,
na opacidade do meu ser,
a minha transparência.
Num afeto perfeito,
para lá da matéria.
Amamo-nos divinamente
porque somos mais do que carne.
Somos rosas azuis
que floriram em janeiro.
Lúcia Gonçalves
Romances publicados

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domingo, 27 de novembro de 2016

Noite de Núpcias

Resultado de imagem para véu da noiva
Noite de Núpcias
Momento 1 - Noiva Cristalina
Em porte principesco desfila a noiva a caminho do altar.
A cada passo que dá esvoaça o cintilante vestido comprido.
Certa e enamorada caminha para a felicidade a enlaçar
quando a firme mão paterna a confiar ao seu prometido.

Momento 2 – Um só
Na quietude singela do quarto nupcial,
atrevem-se os corpos no prelúdio da descoberta,
na conquista quebradiça da intimidade conjugal,
num desfolhar cuidadoso da pureza encoberta.

Momento 3 – A União
O casal entrega-se em suas íntimas e saltitantes carícias.
Unem-se as bocas em beijos húmidos e ousados.  
Numa torrente de pequenas mas atrevidas malícias.
Que cinzelam na pele os toques graciosamente arrojados.

Momento 4 – O Deslumbramento
Perante a dimensão do prazer inesperado,
eleva-se a fantasia numa incrédula fusão de cor.
O sentimento vagueia na profundidade do desconhecido,
numa aliança inesperada entre o prazer e a dor.

Momento 5 – O clímax
Quando o casal rendido cede ao ímpeto da paixão,
e seus corpos se preenchem da intimidade conquistada,
consuma-se, então, o ato da arrebatada união
no momento em que a explosão já não consegue ser adiada.

Momento 6 – O Regozijo
São pingos de lágrimas que dos olhos resvalam!
Alegrando-se a alma pela plenitude celestial alcançada.
Sorrisos ternos de agradecimento no rosto se desenham,
confirmando a união que já não poderá ser negada.

Momento 7 - A acalmia
Os amantes vencidos em sua transparente satisfação,
descansam os corpos num longo abraço apertado,
num inevitável gesto cúmplice de celebração
pelo desejado casamento finalmente consumado.


Lúcia Gonçalves (março de 2016)

sexta-feira, 26 de agosto de 2016

Pobres Corações Insatisfeitos



Quando a ilusão da felicidade plena nos inquieta.
Quando o espaço em que vivemos nos asfixia.
Quando as relações nos aprisionam a sentimentos já gastos.
É porque a realidade em que agora vivemos
foi por nós cobardemente inventada.

Nesses momentos somos seres carentes de afeto,
frágeis presas a simples gestos de conquista.
Secretamente, nossos corações sangram,
por uma culpa que os atormenta pelos desgostos causados.

Quando o peso da mudança nos traz de volta a lucidez,
perante o vislumbre de que a ilusão se possa tornar realidade.
Então, ponderamos nas consequências dolorosas de nossos atos
e decidimos, numa aparente serenidade, iludir-nos mais uma vez.


Lúcia Gonçalves, abril de 2014

sábado, 23 de abril de 2016

Feira do Livro em Sousel - Dia Mundial do Livro


Uma forma muito agradável de assinalar o Dia Mundial do Livro, esta minha ida à linda vila de Sousel fazer a apresentação do meu romance "O Monte das Tílias". Uma tarde muito agradável, num espaço de excelência e em ótima companhia. A sessão serviu, também, de pretexto para recordar e reencontrar amizades e alunos. O meu obrigado à Câmara Municipal de Sousel. 















domingo, 17 de abril de 2016

Lúcia Gonçalves conquista a TV

A convite da Câmara Municipal de Portalegre, a quem agradeço, hoje fui uma das convidadas do programa Portugal em Festa, transmitido em direto do Convento de S. Bernardo, Portalegre. Foi uma experiência bem-disposta em torno da minha escrita  e da riqueza do Alentejo. Próximo evento: dia 23 de abril na Feira do Livro em Sousel, pelas 16 horas. Conto consigo!

























sábado, 16 de abril de 2016

"Alentejo: retratos poético"

Inauguração da exposição patente no decorrer da Feira de Doçaria Conventual - 15, 16 e 16 de abril no Convento de S. Bernardo, Portalegre. O meu obrigada à Câmara Municipal de Portalegre.

Da esquerda para a direita: 
Adelaide Teixeira (Presidente da Câmara Municipal de Portalegre, Lúcia Gonçalves (escritora) e a Secretária de Estado do Turismo