IN: Divino Amor
"O corpo bem torneado, os olhos e cabelos negros tornavam-- na
misteriosamente atraente.
De poucas palavras, muito observadora e boa ouvinte, eram as qualidades que
os homens mais apreciavam em si. Porém continuava solteira e sem nenhum
compromisso sério. Aceitava esporadicamente convites para jantar mas logo no
primeiro encontro encontrava uma forma delicada de transmitir que não estava
disponível para qualquer tipo de relacionamento. Nada mais do que isso.
Era assim que Verónica Alves escolhera viver. Aprendera a disfarçar a dor
que a consumia há doze anos. Mesmo assim considerava-se uma mulher realizada e
a bem com a vida. Mas as feridas continuavam abertas. Já aprendera a viver
assim.
Apesar de toda a transformação exterior, Verónica sabia que bem lá no seu
íntimo continuava a mesma de sempre.
De tempos a tempos, a inocente e doce Ana Constantino teimava em espreitar por
detrás da atual capa. Mas depressa era sepultada para junto das antigas
recordações.
Convencer a família mais chegada da sua necessidade de mudar de nome não
fora tarefa fácil, pois só os parentes chegados sabiam dos verdadeiros motivos
de tal decisão. Aos demais, Verónica convencera-os que era uma necessidade
profissional. Para que a sua privacidade ficasse resguardada.
De qualquer forma nunca mais tinha regressado a Portalegre. Nem procurava
notícias de ninguém. Decidira cortar com o cordão umbilical, numa tentativa de
rasurar o seu triste fado.
“Bem, agora pra frente é caminho. Bem-vinda a
este mundo Verónica Alves. Adeus tristeza, insegurança e quilos a mais. O mundo
espera por ti. Vais mostrar a todos o teu valor”.
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