Crónicas de uma romântica assumida (mas só aos 40 e poucos)

Neste espaço surgirão com alguma frequência crónicas sobre os mais variadíssimos temas tendo sempre como cordão umbilical a sua ligação ao mega tema AMOR.
Surgirão textos mais ousados, outros mais reflexivos outros ainda mais fervorosos… no entanto sempre entrelaçados à realidade que me rodeia, que observo, que pulsa ou que se esconde por detrás de preconceitos que muitas vezes nos afasta dos prazeres da paixão.
Espero que se deleite com as crónicas, certo que cada uma delas é para mim um gesto de AMOR embebido na minha paixão pela escrita.

Crónica VII - Eu, 5 de dezembro de 2015

Eu, 5 de dezembro de 2015

Hoje quando bem cedinho fecho a porta da minha recente moradia sei que corro atrás de um sonho. Como todas as maratonas, também esta, foi dura e desgastante. Por vezes senti-me no limite das forças. Mas vá lá saber-se porquê, quando isso acontece o limite afastava-se sempre um pouquinho mais! Afinal, desde nova que sou uma sobrevivente! Resta seguir em frente. Para trás ficaram projetos de vida interrompidos e muitas mágoas que um dia mais tarde transformar-se-ão em memórias mais ou menos incompreendidas. Penso na corriqueira expressão “de que tudo na vida tem um preço”. Pelos vistos parece que sim! Tendo calcular quanto não valerá a realização de um sonho e decido mudar de pensamento, não vão as lágrimas decidirem soltar-se devido à crueza dos sentimentos, revelando a minha fugaz fragilidade. Revejo se tenho tudo o que preciso para transformar a antiga zona de produção da Fábrica Robinson num auditório improvisado destinado à apresentação do meu Romance “O Monte das Tílias”. Claro que tenho! Tenho o meu irmão comigo! E tantos que em pensamento trocem por mim.
A manhã ainda vai a meio e já as pernas e os braços começam a ressentir-se do corrupio.
Só depois de ter passado por diversas vezes pelos fornos, ou o que resta deles, é que me vou familiarizando com a decadência do espaço, apercebo-me que até no abandono há beleza. Não me refiro à beleza do que é agradável aos sentidos. Não dessa! Mas da beleza das estórias que aquelas paredes decrépitas guardam para si. Do quão difícil terá sido trabalhar naqueles fornos gigantes em pleno estio. Da beleza da própria degradação daquele património industrial. Da beleza do verdete que escorre lado a lado com a ferrugem das máquinas. Tal como os nossos passos apressados que, agora carregam cadeiras para tornarem mais confortável um espaço industrial, na minha imaginação recrio aquele mesmo espaço repleto de trabalhadores forçadamente apressados, de mangas arregaçadas, suor escorrendo pelo rosto vincado pela vida dura, dos braços que carregam o sustento para a casa. É dessa beleza escondida de que falo. Da beleza dos princípios das lutas que ali se travaram. É dessa beleza escondida de que falo. Que só se consegue observar quando o fazemos com a alma e os sentidos e não apenas com o olhar.
A manhã corre rapidamente. Tão rapidamente como as passadas aceleradas que damos para transportar cadeiras, mesas, peças de artesanato, cabos, focos, mantas, microfones,… E lá vem o desesperante pensamento “Mas por que razão me meto nestas coisas?”.
Rapidamente os caracóis, habitualmente alvoraçados, dão lugar a um liso grisalho (de que muito me orgulho), as botas de sola de borracha são substituídas pelos sapatos de salto agulha e as habituais calças de ganga são trocadas por umas de fazenda. Passo batom e sombra nas pálpebras. Pronto!
À hora marcada os portões da fábrica abrem-se, por eles entram, não as operárias de outrora, mas sim rostos curiosos. Rostos amigos. Rostos sorridentes. Rostos! Entre sorrisos, beijos e abraços vou recebendo quem aceitou vir conhecer o meu Monte das Tílias que, acabadinho de sair da tipografia, está a ser transportado, não pelos tapetes rolantes que em tempos levavam a cortiça, mas pelos braços das filhas e amigos, até mesmo do editor e da esposa. 
Já sentada na mesa, os homens do Rancho aguardam que dê a indicação que a sessão possa começar. Comigo ironizo com a lembrança de que naquele mesmo espaço, não assim há tantos anos, seria impensável, se não mesmo impossível, ser uma mulher a “mestre-de-cerimónias”. Afinal alguma evolução houve na igualdade de género! Com o olhar ausculto os meus companheiros de jornada. Aceno afirmativamente com a cabeça. O bater dos paus silencia as vozes. Enquanto isso observo os rostos, uns mais afastados, outros mais próximos e encho-me de orgulho por concluir que toda aquela gente veio para conhecer pessoalmente o meu  “O Monte das Tílias”.
Sinto-me em casa. Sinto que toda a vida me fui preparando para tal protagonismo. Sinto que agora sou EU! Olho para a minha mãe e vejo que me observa emocionada. Cumplicidades que só as mães entenderão.
Desejo que o tempo nunca me falte para realizar tantos projetos! Tenho esperança que o destino se cumpra, pois sempre darei o melhor de mim!
Suspiro de orgulho e pesar porque por receber continua aquele abraço apertado que gostaria de sentir sempre que subo um degrau rumo à concretização dos meus sonhos.
Obrigada Família!
Obrigada Amigos!
Obrigada Portalegre!

Lúcia Gonçalves / dezembro de 2015

Crónica VI - Quando nos permitimos viajar sem a bagagem dos problemas


Provavelmente ler uma crónica cujo tema seja o relato de uma ida a Lisboa nunca me convenceria. Mas a escrita tem a ousadia de tornar um assunto banal numa bem-disposta crónica, quer para quem se deleitou na sua escrita, quer para quem a lê com um sorriso nos lábios pela simplicidade da narrativa, mas não da reflexão que está propositadamente camuflada.
A subida que nos leva a saltitar de degrau em degrau até ao topo que é a realização dos sonhos, poderá ser feita no decorrer de viagens quotidianas. Depende da capacidade individual em concluir, ou não, que é nos momentos simples que se decidem as verdadeiras viragens nas nossas vidas. Que mais tarde poder-se-ão tornar em marcos no friso cronológico da nossa história.
Foi o que aconteceu um dia destes quando fui confrontada com a necessidade de ter de me deslocar a Lisboa com o propósito de tratar de assuntos relacionados com a publicação do meu romance “O Monte das Tílias”.
Pensará: “Qual o problema?”, “Qual o interesse?”
Responderei:
“Para a maioria nada de aventureiro com toda a certeza. Pois é… habituada eu a viagens de longo curso, de percorrer por vezes mais de mil quilómetros num dia, deparei-me com a evidência que nunca o tinha feito sozinha. Confesso que estive tentada a não ir. Mas a matéria-prima de que cada um de nós foi moldada, a uns faz arredar caminho, a outros reforça-lhes a tenacidade. Claro está que me incluo nestes últimos.
Passei então à etapa seguinte: como ir? Algumas hipóteses surgiram naturalmente outras da troca de opinião mais ou menos acalentada, porque confesso, às vezes… só às vezes, quero que me digam apenas o que quero ouvir. Naquele momento estava segura que o melhor seria partilhar aquela jornada com alguém que fosse próximo, que testemunhasse e reconhecesse a dimensão do passo que estava prestes a dar. Pretexto para esconder outros sentimentos. Por orgulho recusei O copo de água fresca que me estava a ser oferecido. Rabujei e devolvi uma “chuveirada” de água gelada.
Teimosamente mantive-me na mesma linha de pensamento. Vou de carro? Se vou de carro, vou sozinha? Peço boleia? A quem?
Falei com os meus botões. Aconselhei-me com o travesseiro. E decido pela alternativa que à partida me parecia a menos atrativa.
Vou na camioneta da Rodoviária. Comuniquei a familiares e amigos que muito mal conseguiram disfarçar a sua surpresa, se não mesmo desagrado, por tal decisão. Lamentei no momento não ter ali ao pé de mim O copo de água fresca para refrescar as ideias.
Bem, ultrapassada a questão do como me deslocar, no dia X lá fui eu a pé até ao terminal rodoviário, de mala a tiracolo, envelope do manuscrito abraçado junto ao peito e uma disposição do tamanho do azul ciano que se estendia para lá do IC13. A cada passada sorria de mim para mim e de mim mesma por não ter tido a lembrança, devido aos acontecimentos do dia anterior, em consultar a morada da editora, horários de transportes urbanos e outras tantas informações que as pessoas costumam recolher quando viajam sozinhas. Como não sou mulher de me atrapalhar enxotei essa preocupação como se de uma ave de rapina se tratasse. Regozijo-me por não me sentir nem insegura, nem preocupada. Apenas uma enorme satisfação por ter decidido viajar sozinha até a editora que vai publicar o meu romance. O caminho é meu. (Bebo um gole de água fresca).
A viagem foi apaziguadora. O tempo que durou foi profícuo. Um género de limbo entre recordações que me confortam e os projetos que tenho. Como não levo bagagem os problemas vão-se afastando à medida que a camioneta roda sobre a estrada de alcatrão. Pisco o olho para a imagem que está refletida na ampla janela.
À medida que o fim da viagem se vai aproximando vou entrando em contacto com o editor e é aí que sou confrontada com a informação que o destino não é a paragem na Gar do Oriente. Pelos vistos tenho de atravessar a capital até à Pontinha… onde quer que esse local seja! (Bebo um gole de água fresca). E agora? Olho em redor e identifico um rosto conhecido mesmo sentado no banco atrás do meu. Faço a questão mais vital no momento – Sabe como posso chegar à Pontinha? Para meu alívio logo ali fico a saber o local onde comprar o bilhete, que comboio apanhar e até mesmo o seu horário. Ligo ao editor, fazendo um discurso de quem está muito habituada a essas vidas de comboios urbanos, Metro e afins…
Já com o bilhete na mão dirijo-me para aquela que julgava ser a paragem da linha de Sintra. Olhei em redor tudo me era desconhecido. Não conhecia ninguém. Ninguém me conhecia. Tirei proveito do anonimato da cidade grande, aproveitei e exorcizei as mágoas. Naquela estação larguei definitivamente a carga que me recuso carregar. (Bebo um gole de água fresca). Já mais leve, durante o compasso de espera, começo a estudar o movimento dos comboios e não só me apercebo que estou do lado oposto para o qual pretendo ir, como também estou na linha errada. Oiço anunciar a aproximação do comboio. Com passo acelerado subo e desço escadas maldizendo a triste ideia de ter ido de saltos altos. Coisa rara em mim. Enfim, lá apanho o comboio e vou contando atentamente as estações que faltam para a minha próxima saída: Sete Rios. Em passo acelerado, porque ao que parece quando andamos nas grandes cidades rapidamente absorvemos o stress de quem nelas vive, saio da estação e vou seguindo a sinalética até ao metro. Entre passadas vou rindo do meu jeito quase citadino, pois ninguém diria que estou a fazer tudo aquilo pela primeira vez. É então que começo verdadeiramente a tirar proveito da minha própria companhia. (Bebo um gole de água fresca). Abraço com mais força o tesouro que é o meu manuscrito. Como que em prece agradeço quem teve a sinceridade de me propor esta viagem. Longe estaria, ou não, do alcance que ela teria no fortalecimento da minha independência.
O encontro com o editor faz-me sentir escritora. A linha do horizonte torna-se ao mesmo tempo mais extensa, mas também, mais próxima. As conversas são exclusivamente profissionais: ideias para a capa, biografia, sinopse, excerto, data, horário, convidados, contrato, local… “Estava capaz de me habituar a esta vida…”.
A tarde já vai a meio quando regresso à Gar do Oriente, sento-me no banco do ponto onde, estava eu convencidíssima, iria “apanhar” a camioneta da rodoviária que me traria de volta a casa. Maldigo pela enésima vez o facto de me ter deixado convencer pela vaidade e ter calçado o sapatos de salto alto. Sem me importar, pois também ninguém dá pela minha presença, descalço-me. (Bebo um gole de água fresca). Como ainda faltam uns longos minutos (julgava eu) até que a viagem inicie, dedico-me a um dos meus passatempos preferidos: observar o que se passa à minha volta e ir inventando vidas para quem passa consumido na sua azáfama. Das vidas imaginárias que concebo para aquela gente passo para a minha e para o dia que tive. As emoções saltam como trutas que com toda a força da genética nadam contra a corrente que as afasta do ponto do seu nascimento. (Bebo um gole de água fresca). Sem hesitar tiro da mala a habitual agenda onde escrevinho tudo o que não quero esquecer e mesmo ali, pelo bico de um lápis de carvão começo a redigir esta crónica. O mundo à minha volta deixa de existir. Naquele ponto da camioneta apenas existo eu e apenas eu, as folhas vão ficando preenchidas e os minutos vão-se gastando. Por uma fração de segundos olho para o relógio, estranho o facto de o motorista ainda não ter aberto a porta. Retiro o papel com o horário e num ato de iliteracia não o interpreto corretamente. Aliás não o fizera o dia todo, tal a vontade que não terminasse.
Finalmente, a dada altura a porta do minibus lá se abre. Apenas eu e um Sr. nos dirigimos para lá.
“Um bilhete para Portalegre, por favor.” Peço com a minha habitual simpatia.
“Esta camioneta não vai para Portalegre.” Responde o motorista prontamente.
“Ai vai, vai.” Respondo eu, enquanto procuro o horário na mala. (Toda a gente sabe como são as malas das senhoras).
“Não vai não. Vai para Alcácer do Sal. Hoje já não há camioneta para Portalegre. A última partiu às dezasseis horas.” Responde, tentando disfarçar o sorriso.
“Como? (acalma-te Lúcia deve haver uma solução. Bebo um gole de água fresca.) Como vou para casa? Sabe se ainda há algum expresso?”
“O último é às dezanove horas.” Responde
Consulto o relógio e vejo que tenho cerca de 45 minutos para chegar a Sete Rios. Sem saber explicar a minha primeira reação é rir-me.
“Bem, de metro não chegas lá a tempo. Olha, vamos tentar de táxi.”
Entro no táxi. À medida que vai saindo do parque de estacionamento vou explicando ao motorista a minha necessidade de chegar antes das dezanove horas. “É o último expresso para Portalegre”. Por entre as filas intermináveis de carros o taxista vai torneando um e outro veículo. Às dezoito horas e quarenta e cinco minutos chego à bilheteira. O roncar dos motores dos vários expressos que dentro de minutos partirão com seus passageiros ecoa pelo pavilhão. Suspiro de alívio. Mas foi um suspiro de curta duração. Olho para as bilheteiras, em qualquer uma delas tenho umas dez a quinze pessoas à minha frente. Ao que parece um problema nas comunicações do serviço multibanco será responsável pela demora na venda dos bilhetes. O último expresso para Portalegre parte quando tenho apenas duas a três pessoas à minha frente.
“E agora Lúcia? Porque não consultaste o horário com atenção? Andaste a passear como se não houvesse horários. À hora que deverias estar a entrar na camioneta, estavas no jardim a comer um gelado… e agora? Agora pensa!” Dialogo comigo mesma. (Bebo um gole de água fresca).
“Por favor ainda há algum expresso para Castelo Branco? E para Évora? Ah é verdade! E para Elvas? Então quero um bilhete para Elvas.”
À hora de embarcar sou das primeiras a entrar não vá por algum desígnio Divino perder transporte de tal dimensão. Já sentada, descalço os sapatos, riu de todas as peripécias.
“Oh mano, perdi os expressos todos, podes ir a Elvas buscar-me?” Peço entre gargalhadas que fazem sorrir todos o que se encontram sentados em meu redor.
O autocarro já acelera na autoestrada quando dou por mim a refletir sobre o dia passado. Sobre a importância de estarmos connosco mesmos. Sobre encontros, reencontros e desencontros. Sobre as encruzilhadas da vida. Durante um dia fui apenas responsável por mim mesma e estive na companhia das minhas vontades.
Refletindo depois de o dia ter chegado ao fim, no aconchego do meu sofá, concluo que por diversas razões acontece sermos seduzidos pelo brilho do caminho já desbravado. E fazemo-lo, ou por temermos a solidão das consequências das nossas decisões, ou porque procuramos uma bengala que nos guie e nos ampare a queda caso as pernas se enleiem nas decisões que tomamos. Infelizmente deixei-me ofuscar pelo brilho do caminho desbravado e rejeitei O copo de água fresca que me foi gentilmente oferecido por alguém que percebeu, primeiro do que eu, que aquela viagem a Lisboa iria representar para mim muito mais do que isso.
Estou tolamente feliz por esta jornada ter sido minha e só minha. Pelos vistos, algures entre o trajeto Portalegre – Lisboa tinha à minha espera o tal copo de água fresca que me tinha sido oferecido e que me foi saciando na viagem. Como peregrina que me sinto guardei-o onde guardamos os valores que consideramos preciosos. Neste dia apenas molhei os lábios pois o caminho é feito de muitas etapas.
Lúcia Gonçalves (novembro / 2015)


Crónica V - "Portalegre, o paraíso desperdiçado"





Com a desculpa de ter de ir comprar uma garrafinha “Botica” de licor de tangerina e pinhão, que só em pensar no sabor do líquido docemente amarelo-reluzente fico com a boca feita em água, dou por mim a estacionar o carro no Largo do Palácio Amarelo.
Enquanto faço a manobra sou assaltada, como sempre, pela lamentação de ver tão bela e rica construção votada ao abandono. Ver assim reduzida a nobre arquitectura burguesa a um mal arrumado armazém mirra-me a alma e para me reconfortar dialogo com a minha imaginação. “Mal sabem os portalegrenses do enredo que já corre nas minhas páginas dentro daquele palácio branco e amarelo…”.
Absorvida pelas ideias que saltam da fértil veia romântica digiro-me contrariada para o parquímetro sempre maldizendo a inércia de quem ainda não conseguiu libertar a zona histórica/comercial da cidade de Portalegre daquelas máquinas infernais comedoras de moedas e afugentadoras de clientela.
Dobro a esquina da Igreja da Misericórdia, actual Escola de Artes do Norte Alentejano e entristeço-me por ver vazias as escadarias, que há menos de meia dúzia de anos (nem tanto), eram o ponto de encontro de dezenas de jovens que ali se deslocavam para alimentarem ou aperfeiçoarem o seu gosto pela música. Os jovens com o seu frenesim que lhe é saudavelmente habitual davam alma àquela zona da urbe com suas conversas, risadas e acordes musicais mais ou menos afinados. “Até a arte nos sugam por uma palheta tão singela que, encantados que andamos por ainda conseguirmos ter a cabeça fora de água, não nos apercebemos que o corpo submerso está mirrado até ao tutano”.
Dou meia dúzia de passos e todas as ideias românticas que pudessem brotar ao pisar a calçada portuguesa que serpenteia suavemente rua a baixo desvanecem-se pela ausência de transeuntes e pelo número de portas fechadas que em tempos, não muito idos, eram a entrada de uma e outra loja. Agora amontoa-se o pó nas vitrines.
Umas portas mais a baixo entro num espaço comercial mais uma vez reinventado. Agora numa típica mercearia, onde uma simpática senhora me faz uma apresentação dos produtos que tem à venda, demorando-se orgulhosamente naqueles que são o fruto do empenho de uns tantos portalegrenses que optam (numa luta diária) por oferecer à terra natal todo o seu talento. Finjo desconhecer os artigos pois deleito-me com as palavras sábias da lojista que de forma empenhada defende o princípio de que o que é “portalegrense é BOM.” Retribuo sorrisos e elogios aos nossos produtos regionais que tanto sucesso têm além fronteiras alentejanas. Acabo por adquirir não só a “Botica” como também umas deliciosas amêndoas de Portalegre, cujo desfazer lento do sabor a chocolate se mistura graciosamente com o estalar da amêndoa torrada.
Como ainda me sobra o meu bem mais valioso, o tempo, decido continuar a descer a Rua do Comércio, que infelizmente pouco jus faz ao nome. Mudamente congratulo todos os que corajosamente insistem em manterem o comércio aberto daquela rua tão pouco movimentada e que periodicamente se desdobram em eventos para que os portalegrenses a visitem e valorizem. Penitenciou-me pelo mesmo pecado.
Já perto das Portas da Devesa, ali mesmo, sobre as pedras centenárias tenho a ideia de fazer o caminho de volta pela Rua 1º de Maio.
A uns tantos passos olho para a recente construção que ocupa o espaço da defunta Moagem de Portalegre e lembro-me das vezes que ali fora ao final de tarde comprar a tão saborosa boleima ou as línguas de sogra. A saudade invade-me. Questiono as opções urbanísticas que vão esvaziando a cidade do seu património edificado que a tornavam ela própria e não uma cópia de outras e tantas outras cidades. “Não será a individualidade dos locais um atrativo turístico?”
Quando as construções urbanas deixam a descoberto a serra da Penha e a sua cruz altaneira supostamente protectora dos portalegrenses, os olhos descem até à brancura da ermida e vá-se lá saber porquê recordo os versos de José Régio na Toada a Portalegre “ Em Portalegre, cidade do Alto Alentejo, cercada de serras, ventos, penhascos, oliveiras e sobreiros…”
Vou caminhando, com os olhos postos na imensidão da paisagem que se estende para lá do IC13. Pela enésima vez apaixono-me por tudo o que a vista e a memória conseguem alcançar. O coração bate forte por mais uma vez se encantar com a imensidão do azul ciano, com a variedade de tons de verde, com os amarelos das giestas, com a transparência das poças de água que se juntaram com as últimas chuvas e que aqui e ali cintilam por entre o arvoredo e as quintas que se estendem para lá da Fonte dos Fornos. Por instantes viro às costas à paisagem tentando focar as torres da Igreja da Sé à procura das tão emblemáticas cegonhas e do som oco do bater dos bicos, o matraquear.
 Retomo a minha caminhada. Como uma adolescente que reconhece o primeiro grande amor (pois nessa idade todos os amores são o primeiro e grandes), atravesso a estrada, para de costas para a estátua do eterno semeador de plantas ou de sonhos, emocionada por me deixar guiar pelas cores, pelos aromas e pelos sons humidamente doces da primavera. Ergo os olhos como que agradecendo à providência divina a graça de ter dotado esta terra com uma luminosidade inigualável.
Mesmo ali à minha frente o sol vai aos poucos despedindo-se da terra deixando no arco do horizonte um rasto vermelho alaranjado. As nuvens cinza escuro tornam a paisagem ainda mais romântica. Inspiro e expiro, melancolicamente apaixonada.
E apesar da minha fraca devoção pergunto a Deus: “O que fazer para todos convencer que este é o melhor lugar do mundo para se viver? Com este êxodo forçado dos fertilmente jovens quem ficará, depois de a tormenta passar, para rejuvenescer e encher de vida a nossa terra? Pode ser… pode ser… que depois da tempestade venha a abonança!”
Com desalento encolho os ombros. Não em sinal de resignação. Mas por saber que temos pela frente um hercúleo desafio.

Lúcia Papafina (abril de 2014)




Crónica IV “O lado feminino do Planeta Terra”

Quando sob as nossas cabeças a tempestade desaba refugíamo-nos no nosso espaço de conforto rogando que passe o mais rapidamente possível.
Do alto da nossa sabedoria acusamos os dias húmidos e chuvosos de serem os responsáveis pela depressão originada pela busca passiva de uma felicidade inatingível. Chagamos mesmo ao extremo de acusar o Deus criador de um castigo do qual não nos sentimos merecedores.
 Numa impaciência infértil, ansiamos pelos dias luminosos com a vã esperança que sejam os raios do astro rei, ao avivarem as cores de tudo o que lá tem estado até então, nos acalentem a alma, nos baralharem os sentidos, nos provoquem suspiros que façam germinar a paixão que conduzirá à tal descarga que elevará o corpo ao clímax da felicidade.
Por comodidade ignoramos que só poderemos desfrutar do prazer da colheita se os campos forem humedecidos, regados, fertilizados e então mais tarde, dependendo da determinação da própria natureza, quando a semente penetrar a terra fertilizada, qual menir hirto, possa então germinar acalentada pela paixão soalheira dos dias mornos de primavera.
Antes porém, das fontes secadas pelo estio terá de jorrar o líquido cristalino e milagroso que tem escondida a fórmula da felicidade, a Água.
Fonte de vida. Símbolo da purificação, da limpeza, do nascimento, da cura, da fertilidade, da fecundação, da transformação, da força, da rebeldia e que tantas vezes, por descuido do único ser racional que habita este planeta azul água, arrasta consigo a morte e a destruição.
A TERRA, um ser feminino na sua plenitude, beleza, capricho e vaidade reclama para si toda a simbologia do líquido que a mantém viva, apaixonante, regenerada e fértil.

Lúcia Papafina (março 2014) 



Crónica III – A Carta que não tive oportunidade de escrever ao meu pai.

- Quem tu pensas que és para teres partido sem avisar?

Que rompes as promessas de castigo.

Que furas os horários maternos de estudo.

Que roubas o comando da TV.

Que combinas num segredo paterno

a primeira saída nocturna,

mas que me manterás numa redoma de vidro!

E te zangarás quando der o primeiro beijo.

Que chorarás comigo, desalmadamente

a caminho do altar.

Pai, tu nunca soubeste dizer não!


Pai, Tu és:

A razão de eu vestir uma t-shirt quando lá fora a neve cai,

ou de ir de casacão quando o calor aperta.

A melhor forma de eu apanhar uma constipação

A melhor desculpa para não comer a sopa,

ou ficar a ver um filme até mais tarde.

A melhor companhia para ir ao meu primeiro concerto.

Na tua banal imperfeição

serás sempre o meu herói

e eu a tua menininha


Por ti:

Serei corajosamente paciente,

inteligente e decidida.

Aprenderei a suportar a tua Partida.

Não desistirei dos meus sonhos.

Com certeza tornar-me-ei mulher.

Viverei apaixonadamente,

perpetuando o teu nome.

Chegarei ao fim da meta

Reclamarei à providência divina um anjo da guarda.


Pai, acredita que:

Que o coração bate depressa,

quando no silêncio da noite,

no momento em que a realidade

 se confunde com as lembranças,

chamas por mim.

Que no teu abraço o medo desaparece.

Devo-te cada sopro.

Sei que zelarás por mim para lá da eternidade

num simples e prolongado toque de dedos

sentirei o teu conforto nas horas difíceis

PAI,

AMAR-TE-EI saudosamente

até ao fim dos tempos.

 Lúcia Papafina (março de 2014)

Dedicado ao meu pai, ao pai das minhas filhas, a um aniversariante especial e a todos os pais.
(Respeite os direitos de autor, não copie nem faça alterações ao texto descurando os procedimentos que a lei obriga. Obrigada.)


Crónica II - "Carnaval – A festa da sensualidade."

Quando penso em carnaval vem-me à memória não os sacos de plástico que há décadas são reinventados noutra função que não aquela para a qual estão exatamente destinados, não as desconfortáveis caixas cartão que ganham outras formas numa justificação educativa e ecológica (contra a qual nada tenho) que do velho de faz novo e muito menos me salta da memória o “copy paste” do carnaval-desnudado carioca que ano após ano teimosamente tem invadido os corços carnavalescos do nosso país tornando o entrudo num género de espetáculo de bancada. 
Se a memória fosse comandada optaria, em substituição, pelo tradicional Carnaval Trapalhão de Castelo de Vide, que com esse o público pelo menos se identifica, brinca, ri, permite liberdades negadas durante os restantes dias do ano e reconhece o trabalho criativo e sátiro dos foliões…mas não…
A memória é invadida pelas sensuais imagens do carnaval veneziano que tantas e tantas vezes me faziam suspirar em frente ao ecrã da TV.
Que outra coisa seria de esperar de uma romântica tardiamente assumida?
O carnaval é pluma macia e colorida, é cetim viscoso artisticamente transformado em peças de vestuário requintadas, é renda que pende das bainhas das saias e das mangas, é pérola que dança em movimentos roliços e translúcidos, a maquilhagem extravagante que torna nos rostos femininos os lábios mais apetecíveis, os espartilhos (mulheres) ou cintas (homens) que adelgaçam a silhueta… enfim, é fantasiar o ser quotidiano num outro que está para lá das banalidades e dos compromissos.
Carnaval é o sorriso que mudamente tudo diz por detrás de uma mascarilha, é a gargalha estridente que se solta por um piropo mais atrevido, é a cumplicidade de um encontro proibido, é a ousadia permitida quando se veste a personagem, o olhar que se torna sensualmente quente, a música que aquece os corpos camuflados e como tal mais ousados, é o beijo roubado, a paixão reacendida… é puro atrevimento. Essa é a alma do carnaval.
Carnaval é a luxúria, o excesso que antecede o jejum.
Lúcia Papafina (março / 2014)
(Respeite os direitos de autor, não copie nem faça alterações ao texto descurando os procedimentos que a lei obriga. Obrigada.)

Crónica I -  “Dia dos namorados, sim ou não?”

Sexta feira de manhã. Congratulada pelo fim de semana que se avizinha, embora que chuvoso, sorrio para a paisagem húmida e alagada dos campos perante o vislumbre de puder passar umas tantas horas sentada no sofá ou na senhorinha a ler e a escrever no ambiente confortavelmente amornado pela chama que crepitará na lareira. As colunas do carro libertam as vozes bem dispostas do Café da Manhã da RFM, o que é habitual.
Há já alguns dias que uma ideia me vem martelando o juízo. Como uma “genuína” alentejana adotada aos dez anos de idade, diria que ando pensando sobre o que escrever após um(a) anónimo(a) me ter desafiado a fazê-lo através da minha conta o facebook.

A proposta consiste em apresentar um texto de pequena dimensão que ele / ela se responsabilizará por fazer os arranjos estéticos e sonoros. Parece-me um pouco estranho aceitar uma parceria sem rosto, sem referências e principalmente sem ter a certeza de qual será o destino a dar à minha escrita.
Como nunca fui mulher de fechar janelas nem tão pouco portas, decido que a seu tempo haverei de aceitar a proposta. O que terei a perder… a autoria de dois ou três textos!!! Ainda acredito que há pessoas com boas intenções.

A uma velocidade controlada, não vá o carro da BTT estar a medir à socapa a velocidade dos incumpridores, o carro galga alcatrão até ao meu local de trabalho (que por sinal este ano fica relativamente perto), sou recordada da aproximação do dia de S. Valentim pela publicidade radiofónica que preenche o habitáculo da pequena viatura azul Lúcia.
Dia dos Namorados é? E porque não?

Nessa fração de segundo ocorre-me que será um bom tema para iniciar as minhas crónicas no blog e a tal parceria que me anonimamente foi proposta. Se depressa o pensei, mais rapidamente visionei (porque sou mesmo assim) as letras negras sob o fundo cinza a surgirem no ecrã do meu portátil. Como não restavam dúvidas (achava eu) de qual seria a minha posição face a tão desnecessária celebração, aliás como acontece com tantas outras cujo consumismo as transformou em dias imprescindíveis ao equilíbrio do mundo feminino, estava certa de que iria escrever uns tantos parágrafos refletindo sobre a futilidade do dia dos namorados.
Vai daí, a mente induzida (quem sabe) pela rotação de 180 graus que a viatura faz na rotunda de S. Tiago – Urra, é invadida por imagens de jantares românticos à luz das velas, toques aveludados entre dedos que cansados de se conhecerem, mesmo assim, se entrelaçam tão fervorosamente que originam o movimento de um bater de borboletas em torno da zona umbilical, beijos fugazes e banais que nesse dia (vá-se lá saber porquê) se tornam mais húmidos e arrebatadores, sorrisos marotos, olhares cúmplices que comunicam silenciosamente, corpos enlaçados que balançam ao ritmo envolvente de um slow que ecoa numa qualquer pista de dança ou simplesmente na sala de uma casa de família que nessa noite se tornara no mais romântico dos cenários contando para isso apenas com a ajuda de umas tantas velas acesas e pétalas de rosa cor de sangue espalhadas pelo tapete fofo que cobre o piso entre os sofás… saltam também lembranças, aquelas do tempo da juventude em que nesse dia o pouco dinheiro que se conseguia juntar era gasto numa fina pulseira de prata (ou não) de onde pedia uma pequena argola onde uma minúscula peça circular girava ao sabor do sopro suave que fazia aparecer a palavra “LOVE”.

No rádio toca agora a música “Já sei namorar” dos Tribalistas. Como sei a letra de cor acompanho-a. E se de um momento para o outro o dia de S. Valentim passa-se a fazer sentido? Porque não? Celebramos tantas datas. Porque não celebrar mais esta? Contrariada com a ideia franzo o sobrolho para a afugentar. Sinto-me ainda mais contrariada porque o coração se sobressalta com a ideia de neste ano poder ter (hipoteticamente pensando) um jantar romântico. Nesse instante sinto-me como se tivesse sido o alvo mais fácil que a seta do cupido encontrara nessa manhã.

Reviro os olhos, estaciono a viatura sem grande atenção. A mente vagueia e o capilar romântico, tantas vezes estrangulado, galga já veia injetando o coração, órgão rei onde todos os sentimentos são acalentados ou rejeitados, de um líquido morno e acelerado.  

E se ao invés de repudiar a data de celebração do AMOR, sob o pretexto de ser mais uma estratégia de nos levar a consumir o que não precisamos, de que não precisamos de dias fixos no calendário para manifestarmos o sentimento nobre que nos une à pessoa que temos ao nosso lado, ou tantas outras desculpas que nesse preciso momento me parecem descabidas senão mesmo pouco sinceras quando penso que qualquer um gostaria de ser presenteado com um gesto romântico nesse dia. Reivindico ser sincera, em primeiro lugar, para comigo mesma. Assumo que gostaria imenso de receber um gesto romântico nesse dia. Mais ousada ainda … e se este ano me deixasse convencer e decidisse celebrar o Dia de S. Valentim, porque o faria? Reflito sobre comentários trocados em círculo restrito de amigas e por alguns especialistas que, nessa altura do ano são convidados a preencher os noticiários dos vários canais televisivos. Penso na rotina em que se pode tornar uma relação duradoura e rotineira (não no sentido banal do termo), que talvez, e reforço talvez, por orgulho teime em assumir de que não precisa de ser “mimada” nem com datas, nem com gestos especiais. Fico na dúvida.

Levo toda a manhã e parte da tarde a matutar no assunto… vou buscar as filhas, a mãe, a irmã... vou até casa… estendo a roupa, coloco outra lavar, arrumo as compras que fiz de manhã antes de ir trabalhar, volto a sair de casa para ir com marido buscar um dos carros que está na oficina… entre tantas tarefas sinto-me atormentada com a conclusão que se vai arquitetando. Sinto-me a mais tolas das românticas por aos 40 e picos estar a pensar assim.

Finalmente chega a hora do dia de que mais gosto: a hora do silêncio da casa, em que tomo o sofá para mim e mergulho, de fones nos ouvidos, no meu mundo da escrita. Pesquiso imagens, dedicatórias, músicas enfim toda a panóplia de informação que a internet disponibiliza num clic.

Então, respiro fundo e combino comigo mesma: este ano vou celebrar o AMOR, nem que seja apenas colocando uma vela na mesa onde o jantar de família terá lugar. Vou celebrá-lo porque me sinto romântica. Porque a azáfama em que a nossa vida anda por vezes nos faz esquecer de que o AMOR tem de ser cuidado, estimado e acalentado. Claro que para tal não preciso de comprar o mais caro dos perfumes ou… sabe-se lá o quê.
Sinto-me deleitada com o pensamento final de que as datas especiais não são mais do que pequenos lembretes que nos incitam a reconhecer o que temos de maior valor na nossa vida. Neste preciso momento sinto o Dia de S. Valentim como um enorme sinal de Informação que me aconselha a fugir à rotina e pensar no gesto romântico com que nesse dia, pelo menos, vou presentear a pessoa que AMO.
Caras leitoras / Caros leitores mais não posso partilhar… não se esqueça…

FAÇA POR SER FELIZ.
 Lúcia Papafina
 (Respeite os direitos de autor, não copie nem faça alterações ao texto descurando os procedimentos que a lei obriga. Obrigada.)


11 comentários:

Unknown disse...

Estou sem palavras.....ADOREI!!!
Até me vieram as lágrimas aos olhos!
LINDO!!!!
Parabéns!

Zezinha disse...

Lúcia, estou sem fôlego!! Uau!!! Que texto linnnnnnndo!!!
Continua assim...
bjs Zezinha

Lúcia Gonçalves disse...

Caras amigas e prima, lindas são as vossas palavras e os sentimentos que as envolvem. Obrigada a ambas pois tenham a certeza que a minha escrita é o fruto dos afetos que fui trocando com todas as pessoas que até hoje me cruzei.

Unknown disse...

Simplesmente lindoooo.
A forma como escreveste e a forma como nos transmites o sentimento tão importante como é o AMOR. Beijos querida.

Lúcia Gonçalves disse...

Obrigada, Fatinha pelas tuas palavras.

Arminda disse...

Muito transparente, é o teu reflexo, este jogo de palavras põem-te a nu. Continua porque és maravilhosa. Gostei muito.

Lúcia Gonçalves disse...

Obrigada. As tuas palavras emocionam-me sempre. Sou uma afortunada pelas amizades que me rodeiam.

adriano disse...

... e se o dia dos namorados for, como o Natal, quando a gente quiser?!

Lúcia Gonçalves disse...

Adriano, se assim for, melhor ainda...

Unknown disse...

Adorei...espero ansiosamente pela próxima crónica.

Lúcia Gonçalves disse...

Lena obrigada, às vezes a inspiração brota quando menos e onde se espera...beijocas e grata pelo teu incentivo.