terça-feira, 22 de dezembro de 2015

As minhas BOAS FESTAS

E quando não é Natal o que fazemos?
 
Há já algum tempo que venho refletindo sobre esta simpatia que invade os nossos gestos assim que o mês de dezembro inicia.
Reflito sobre os sorrisos que oferecemos e as vezes repetidas que desejamos “Boas Festas”, “Feliz Natal” e “Feliz Ano Novo”. Pergunto-me… por que razão, não o faremos, naturalmente, durante os restantes dias do ano?
Há já algum tempo que venho questionando o que teria de ser feito para que essa alegria global, que enche de luz e brilho o mês de dezembro, se prolongasse o ano inteiro?
Claro que não me refiro ao brilho das luzes que piscam, nem tão pouco, ao brilho dos enfeites com que decoramos os espaços íntimos, familiares e públicos. Claro que não!
Refiro-me ao brilho dos sentimentos, da cortesia de saudar as pessoas e lhes desejarmos quotidianamente que tenham um bom dia e que sejam verdadeiramente felizes. Ao brilho das nossas ações, das nossas palavras, dos nossos gestos no sentido de contribuirmos para a felicidade do outro!
Quanto mais ouço a tão banalizada expressão “O Natal é quando quisermos” mais ela me parece vazia de sinceridade. Lamento mas é o que penso!
Olho em redor e observo que na quadra natalícia estamos todos mais sorridentes, mais simpáticos, diria mesmo até, mais empenhados em cumprimentar e oferecer votos a quem connosco se cruza.
Não estou apresentar uma crítica. Não! Apenas, no meu romantismo fora de moda (se calhar) gostaria que pelo menos o espírito natalício de cumprimentar o outro, de lhe desejar um Feliz Dia se estendesse durante os restantes dias do ano. Assim sim, o Natal seria quando um Homem quisesse!
Inevitavelmente vêm-me à memória umas tantas pessoas para as quais durante o ano, aparentemente, não existo! Os nossos caminhos cruzam-se com frequência e nada dizem, ou simplesmente viram o rosto para o lado, desviam caminho e na quadra… esforçam-se por proferir as tão universais saudações natalícias. Parece que é um gesto que se faz por habituação, não por ser sentido! Que pena que assim seja… um sorriso faz tão bem… a quem o oferece e a quem o recebe!
Pergunto-me qual a magia do Natal para transformar assim o comportamento de algumas pessoas? O que teria de ser feito para que essa magia de boa cortesia se prolongasse?
Tristemente concluo que nos deixamos contagiar pelo brilho das luzes e dos enfeites, não pelo espírito de Natal, porque, uma vez as luzes desligadas, os enfeites encaixotados, o pinheiro arrumado ou deitado fora e as figuras do presépio escondidas dentro de caixas, o espírito natalício também é guardado numa qualquer lâmpada mágica que O mantém prisioneiro até ao próximo Natal.
Ao que parece, até é suposto desculparmos, sob o pretexto de que é Natal, quem nos ignorou nos últimos trezentos e sessenta e cinco dias…
Terminada a quadra as pessoas voltam aos seus comportamentos pouco sorridentes, distantes…  nada natalícios!
Já agora… Para todos BOAS FESTAS PARA O ANO INTEIRO!
Mas um ABRAÇO SORRIDENTE, BEM APERTADINHO, BEM ACONCHEGADINHO para quem nos últimos 365 dias me acompanhou, me fez sorrir e me abraçou as vezes que fizeram falta. Em especial para as minhas FILHAS Leonor e Raquel.

Lúcia Gonçalves (dezembro 2015)

Ainda vai a tempo de oferecer este Natal


quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

As paisagens que me inspiram

“Realidade versus Ilusão”
Que os vossos olhos não vos iludam!
com a aparente realidade que é revelada.

Reparai!
Que para lá da transparência da quietude.
estende-se a sensualidade do corpo de Beatriz 
que jaze depois da batalha travada.
Das chamas que separam o céu do inferno de Dante
vislumbra-se a esperança renovada.
Mas reparai!
Nas figuras dantescas dissimuladas
que caminham insaciadas
profanando o paraíso desejado.
(Texto:Lúcia Gonçalves dezembro de 2015)
(Foto: Augusto Fernandes)


"O homem e a mulher"
O rosa e o azul.
A cumplicidade da união
O aconchego do abraço ansiado.
Onde o princípio é o fim.
Onde a realidade é a crença
ou o reflexo é a revelação.
Onde tudo acaba quando começa.
A alvorada que desperta
o pulsar da paixão
Ou o entardecer
que anuncia a despedida
O Uno da criação
Ou preludio da separação.
O que fica então?

(Texto:Lúcia Gonçalves dezembro de 2015)
(Foto: Augusto Fernandes)


“Alentejo e Alentejanos”
O verde do pasto rente ao solo
que nos enche de esperança.
A orgulhosa solidão do sobreiro
que nos mantém arfada a alma.
O trotear alegre da natureza
que enche de alegria a gente.
A imensidão de céu
que nos faz sonhar mais além.
Alentejo:
Polifonia multicolor de aromas
De gentes a quem a terra gretou a mãos.
Que canta arrastado.
Mas que dança de mãos erguidas.
(Texto:Lúcia Gonçalves dezembro de 2015)
(Foto: Augusto Fernandes)

quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

Eu, 5 de dezembro de 2015

Hoje quando bem cedinho fecho a porta da minha recente moradia sei que corro atrás de um sonho. Como todas as maratonas, também esta, foi dura e desgastante. Por vezes senti-me no limite das forças. Mas vá lá saber-se porquê, quando isso acontece o limite afastava-se sempre um pouquinho mais! Afinal, desde nova que sou uma sobrevivente! Resta seguir em frente. Para trás ficaram projetos de vida interrompidos e muitas mágoas que um dia mais tarde transformar-se-ão em memórias mais ou menos incompreendidas. Penso na corriqueira expressão “de que tudo na vida tem um preço”. Pelos vistos parece que sim! Tendo calcular quanto não valerá a realização de um sonho e decido mudar de pensamento, não vão as lágrimas decidirem soltar-se devido à crueza dos sentimentos, revelando a minha fugaz fragilidade. Revejo se tenho tudo o que preciso para transformar a antiga zona de produção da Fábrica Robinson num auditório improvisado destinado à apresentação do meu Romance “O Monte das Tílias”. Claro que tenho! Tenho o meu irmão comigo! E tantos que em pensamento trocem por mim.
A manhã ainda vai a meio e já as pernas e os braços começam a ressentir-se do corrupio.
Só depois de ter passado por diversas vezes pelos fornos, ou o que resta deles, é que me vou familiarizando com a decadência do espaço, apercebo-me que até no abandono há beleza. Não me refiro à beleza do que é agradável aos sentidos. Não dessa! Mas da beleza das estórias que aquelas paredes decrépitas guardam para si. Do quão difícil terá sido trabalhar naqueles fornos gigantes em pleno estio. Da beleza da própria degradação daquele património industrial. Da beleza do verdete que escorre lado a lado com a ferrugem das máquinas. Tal como os nossos passos apressados que, agora carregam cadeiras para tornarem mais confortável um espaço industrial, na minha imaginação recrio aquele mesmo espaço repleto de trabalhadores forçadamente apressados, de mangas arregaçadas, suor escorrendo pelo rosto vincado pela vida dura, dos braços que carregam o sustento para a casa. É dessa beleza escondida de que falo. Da beleza dos princípios das lutas que ali se travaram. É dessa beleza escondida de que falo. Que só se consegue observar quando o fazemos com a alma e os sentidos e não apenas com o olhar.
A manhã corre rapidamente. Tão rapidamente como as passadas aceleradas que damos para transportar cadeiras, mesas, peças de artesanato, cabos, focos, mantas, microfones,… E lá vem o desesperante pensamento “Mas por que razão me meto nestas coisas?”.
Rapidamente os caracóis, habitualmente alvoraçados, dão lugar a um liso grisalho (de que muito me orgulho), as botas de sola de borracha são substituídas pelos sapatos de salto agulha e as habituais calças de ganga são trocadas por umas de fazenda. Passo batom e sombra nas pálpebras. Pronto!
À hora marcada os portões da fábrica abrem-se, por eles entram, não as operárias de outrora, mas sim rostos curiosos. Rostos amigos. Rostos sorridentes. Rostos! Entre sorrisos, beijos e abraços vou recebendo quem aceitou vir conhecer o meu Monte das Tílias que, acabadinho de sair da tipografia, está a ser transportado, não pelos tapetes rolantes que em tempos levavam a cortiça, mas pelos braços das filhas e amigos, até mesmo do editor e da esposa. 
Já sentada na mesa, os homens do Rancho aguardam que dê a indicação que a sessão possa começar. Comigo ironizo com a lembrança de que naquele mesmo espaço, não assim há tantos anos, seria impensável, se não mesmo impossível, ser uma mulher a “mestre-de-cerimónias”. Afinal alguma evolução houve na igualdade de género! Com o olhar ausculto os meus companheiros de jornada. Aceno afirmativamente com a cabeça. O bater dos paus silencia as vozes. Enquanto isso observo os rostos, uns mais afastados, outros mais próximos e encho-me de orgulho por concluir que toda aquela gente veio para conhecer pessoalmente o meu  “O Monte das Tílias”.
Sinto-me em casa. Sinto que toda a vida me fui preparando para tal protagonismo. Sinto que agora sou EU! Olho para a minha mãe e vejo que me observa emocionada. Cumplicidades que só as mães entenderão.
Desejo que o tempo nunca me falte para realizar tantos projetos! Tenho esperança que o destino se cumpra, pois sempre darei o melhor de mim!
Suspiro de orgulho e pesar porque por receber continua aquele abraço apertado que gostaria de sentir sempre que subo um degrau rumo à concretização dos meus sonhos.
Obrigada Família!
Obrigada Amigos!
Obrigada Portalegre!

Lúcia Gonçalves / dezembro de 2015

terça-feira, 8 de dezembro de 2015

Onde pode adquirir o "O Monte das Tílias" - Prenda de Natal


  • Portalegre: 
    • Papelaria Arco Íris 
    • Papelaria Nun´ Alvares
    • E.Leclerc
  • Castelo de Vide
    • FotoVila
  • Lisboa: Edições Colibri 
    • Livraria Colibro - UL-Faculdade de Letras, Alameda da Universidade
    • Livraria Colibri - Faculdade de Ciências Sociais e Humanas Av. de Berna
    • Livraria Colibri - Universidade Nova de Lisboa
  • Internet: 
    • http://www.edi-colibri.pt/
    • http://www.amazon.com
  • Procure ou encomende em qualquer livraria perto de si.

domingo, 6 de dezembro de 2015

Todos os mistérios revelados... agora aceite o desafio e "comece a ler!"

 

  



 





 

 



A Lúcia é uma mulher de forte vida emocional que durante muitos anos viveu a alimentar a paixão da escrita sem, no entanto, a dar a conhecer.
Lutou pela publicação do seu primeiro livro...também este segundo foi um projeto que demorou muito mais do que seria esperado…
Habituou-nos a deixar portas abertas para que passemos por elas e encontremos quadros que nos são familiares, mantendo-nos focados em emoções fortes…
… é uma escrita difícil de domar, é ousada, sensual… porque ela brota assim… profusamente, como se tivesse de dizer o que esteve preso por tanto tempo!
No "Monte das Tílias" entramos, como leitores, no coração da Lúcia, porque através desta obra ela dá-nos acesso ilimitado…
Como dizia Pilar del Rio há poucos dias, o autor, entrega-se, expõe-se… para que o descubram! E por isso mesmo tem de haver respeito e admirar quem é capaz de o fazer sem pedir nada em troca!
Neste romance encontramos a crueza dos sentimentos… a força arrebatadora do amor… o reflexo do que somos… sem filtros…
É uma obra para todos os portalegrenses, mas também para todos os que, num sentido mais alargado, identificam aqui… e ali… os cheiros, as cores, os sabores do Alto Alentejo!
Acima de tudo, é uma obra para os que apreciam a pureza dos sentimentos e das emoções!
Pela riqueza dos pormenores das descrições, sentimo-nos viajar no tempo… passear pela cidade recriada, sentimo-nos incomodados, deixamo-nos levar, ser tocados, somos mesmo sacudidos e, sem dar por isso, é possível que, ao ler, esbocemos um leve sorriso, eventualmente descoberto por quem estiver ao nosso lado… criando uma cumplicidade com as personagens que se nos vão descobrindo ao longo do enredo!
Chegou o momento!
Quem estiver disposto a aceitar o desafio…. Que a leitura comece!!
Muito sucesso, Lúcia Gonçalves! Grata pelo privilégio de ter feito parte do TEU DIA! Um grande beijinho!!

Fátima Dias (novembro de 2015)

terça-feira, 1 de dezembro de 2015

domingo, 22 de novembro de 2015

Resumo “O Monte das Tílias”



“O Monte das Tílias” é a verdadeira história de amor, com os enleios e encruzilhadas que marcam a vida quotidiana. Onde a esperança de que a felicidade pode ser alcançada se torna o objetivo basilar do enredo.
    Ao leitor é exigido ler com os cinco sentidos, “arquitetando” os aromas, as cores, os cheiros, o paladar, os cenários de um Alentejo verdadeiramente sedutor, devido à forma emotiva como cada detalhe é descrito.   
Os momentos íntimos, não chocando, são ousados e arrebatadores. A descoberta da intimidade é romântica, detalhada e muito, muito feminina.
A narrativa surge como uma ousada combinação entre a veracidade do contexto e a ficção do enredo, enriquecida pelo suspense dos mistérios que rodeiam a vida das personagens de Amélia e João Morgado e a luta para punir os vilões.

Uma história de amor, uma viagem no tempo, um policial, um roteiro pelas tradições alentejanas.

sábado, 21 de novembro de 2015

Às vezes pedimos emprestadas as palavras de alguém para nos vestirmos I

 Foi o que hoje aconteceu quando acompanhada por três amigas me desloquei à vila de Avis para assistir à cerimónia de inauguração da Biblioteca Municipal. Não vou negar que a motivação foi a presença de Pilar del Río.
Dos vários discursos que escutei quero simplesmente partilhar algumas das palavras com que Pilar del Río fez questão de presentear quem a escutou. Claro que não farei citações, nem tão pouco comentários, apenas relembrar as palavras que me tocaram como escritora.
Hoje foi um daqueles dias em que senti que estava na hora certa e no local certo. Pensei para comigo “Ainda bem que existem pessoas que conseguem na perfeição transmitir por palavras o que sentimos.”
Num tom cordial Pilar del Río lembrou as várias dezenas de pessoas que se encontravam no auditório que qualquer livro tem uma pessoa lá dentro: o seu autor. A escrita, seja ela de que género for, revela a personalidade do autor. Que ao decidir publicar o que escreve fica exposto porque decide escrever sobre este ou aquele aspeto e não sobre outro qualquer. Quem lê deve fazê-lo com respeito, quer pela pessoa que o escreveu, quer pela coragem que teve em fazê-lo. 

Obrigada Pilar.

Lúcia Gonçalves 

 



sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Quando nos permitimos viajar sem a bagagem dos problemas


Provavelmente ler uma crónica cujo tema seja o relato de uma ida a Lisboa nunca me convenceria. Mas a escrita tem a ousadia de tornar um assunto banal numa bem-disposta crónica, quer para quem se deleitou na sua escrita, quer para quem a lê com um sorriso nos lábios pela simplicidade da narrativa, mas não da reflexão que está propositadamente camuflada.
A subida que nos leva a saltitar de degrau em degrau até ao topo que é a realização dos sonhos, poderá ser feita no decorrer de viagens quotidianas. Depende da capacidade individual em concluir, ou não, que é nos momentos simples que se decidem as verdadeiras viragens nas nossas vidas. Que mais tarde poder-se-ão tornar em marcos no friso cronológico da nossa história.
Foi o que aconteceu um dia destes quando fui confrontada com a necessidade de ter de me deslocar a Lisboa com o propósito de tratar de assuntos relacionados com a publicação do meu romance “O Monte das Tílias”.
Pensará: “Qual o problema?”, “Qual o interesse?”
Responderei:
“Para a maioria nada de aventureiro com toda a certeza. Pois é… habituada eu a viagens de longo curso, de percorrer por vezes mais de mil quilómetros num dia, deparei-me com a evidência que nunca o tinha feito sozinha. Confesso que estive tentada a não ir. Mas a matéria-prima de que cada um de nós foi moldada, a uns faz arredar caminho, a outros reforça-lhes a tenacidade. Claro está que me incluo nestes últimos.
Passei então à etapa seguinte: como ir? Algumas hipóteses surgiram naturalmente outras da troca de opinião mais ou menos acalentada, porque confesso, às vezes… só às vezes, quero que me digam apenas o que quero ouvir. Naquele momento estava segura que o melhor seria partilhar aquela jornada com alguém que fosse próximo, que testemunhasse e reconhecesse a dimensão do passo que estava prestes a dar. Pretexto para esconder outros sentimentos. Por orgulho recusei O copo de água fresca que me estava a ser oferecido. Rabujei e devolvi uma “chuveirada” de água gelada.
Teimosamente mantive-me na mesma linha de pensamento. Vou de carro? Se vou de carro, vou sozinha? Peço boleia? A quem?
Falei com os meus botões. Aconselhei-me com o travesseiro. E decido pela alternativa que à partida me parecia a menos atrativa.
Vou na camioneta da Rodoviária. Comuniquei a familiares e amigos que muito mal conseguiram disfarçar a sua surpresa, se não mesmo desagrado, por tal decisão. Lamentei no momento não ter ali ao pé de mim O copo de água fresca para refrescar as ideias.
Bem, ultrapassada a questão do como me deslocar, no dia X lá fui eu a pé até ao terminal rodoviário, de mala a tiracolo, envelope do manuscrito abraçado junto ao peito e uma disposição do tamanho do azul ciano que se estendia para lá do IC13. A cada passada sorria de mim para mim e de mim mesma por não ter tido a lembrança, devido aos acontecimentos do dia anterior, em consultar a morada da editora, horários de transportes urbanos e outras tantas informações que as pessoas costumam recolher quando viajam sozinhas. Como não sou mulher de me atrapalhar enxotei essa preocupação como se de uma ave de rapina se tratasse. Regozijo-me por não me sentir nem insegura, nem preocupada. Apenas uma enorme satisfação por ter decidido viajar sozinha até a editora que vai publicar o meu romance. O caminho é meu. (Bebo um gole de água fresca).
A viagem foi apaziguadora. O tempo que durou foi profícuo. Um género de limbo entre recordações que me confortam e os projetos que tenho. Como não levo bagagem os problemas vão-se afastando à medida que a camioneta roda sobre a estrada de alcatrão. Pisco o olho para a imagem que está refletida na ampla janela.
À medida que o fim da viagem se vai aproximando vou entrando em contacto com o editor e é aí que sou confrontada com a informação que o destino não é a paragem na Gar do Oriente. Pelos vistos tenho de atravessar a capital até à Pontinha… onde quer que esse local seja! (Bebo um gole de água fresca). E agora? Olho em redor e identifico um rosto conhecido mesmo sentado no banco atrás do meu. Faço a questão mais vital no momento – Sabe como posso chegar à Pontinha? Para meu alívio logo ali fico a saber o local onde comprar o bilhete, que comboio apanhar e até mesmo o seu horário. Ligo ao editor, fazendo um discurso de quem está muito habituada a essas vidas de comboios urbanos, Metro e afins…
Já com o bilhete na mão dirijo-me para aquela que julgava ser a paragem da linha de Sintra. Olhei em redor tudo me era desconhecido. Não conhecia ninguém. Ninguém me conhecia. Tirei proveito do anonimato da cidade grande, aproveitei e exorcizei as mágoas. Naquela estação larguei definitivamente a carga que me recuso carregar. (Bebo um gole de água fresca). Já mais leve, durante o compasso de espera, começo a estudar o movimento dos comboios e não só me apercebo que estou do lado oposto para o qual pretendo ir, como também estou na linha errada. Oiço anunciar a aproximação do comboio. Com passo acelerado subo e desço escadas maldizendo a triste ideia de ter ido de saltos altos. Coisa rara em mim. Enfim, lá apanho o comboio e vou contando atentamente as estações que faltam para a minha próxima saída: Sete Rios. Em passo acelerado, porque ao que parece quando andamos nas grandes cidades rapidamente absorvemos o stress de quem nelas vive, saio da estação e vou seguindo a sinalética até ao metro. Entre passadas vou rindo do meu jeito quase citadino, pois ninguém diria que estou a fazer tudo aquilo pela primeira vez. É então que começo verdadeiramente a tirar proveito da minha própria companhia. (Bebo um gole de água fresca). Abraço com mais força o tesouro que é o meu manuscrito. Como que em prece agradeço quem teve a sinceridade de me propor esta viagem. Longe estaria, ou não, do alcance que ela teria no fortalecimento da minha independência.
O encontro com o editor faz-me sentir escritora. A linha do horizonte torna-se ao mesmo tempo mais extensa, mas também, mais próxima. As conversas são exclusivamente profissionais: ideias para a capa, biografia, sinopse, excerto, data, horário, convidados, contrato, local… “Estava capaz de me habituar a esta vida…”.
A tarde já vai a meio quando regresso à Gar do Oriente, sento-me no banco do ponto onde, estava eu convencidíssima, iria “apanhar” a camioneta da rodoviária que me traria de volta a casa. Maldigo pela enésima vez o facto de me ter deixado convencer pela vaidade e ter calçado o sapatos de salto alto. Sem me importar, pois também ninguém dá pela minha presença, descalço-me. (Bebo um gole de água fresca). Como ainda faltam uns longos minutos (julgava eu) até que a viagem inicie, dedico-me a um dos meus passatempos preferidos: observar o que se passa à minha volta e ir inventando vidas para quem passa consumido na sua azáfama. Das vidas imaginárias que concebo para aquela gente passo para a minha e para o dia que tive. As emoções saltam como trutas que com toda a força da genética nadam contra a corrente que as afasta do ponto do seu nascimento. (Bebo um gole de água fresca). Sem hesitar tiro da mala a habitual agenda onde escrevinho tudo o que não quero esquecer e mesmo ali, pelo bico de um lápis de carvão começo a redigir esta crónica. O mundo à minha volta deixa de existir. Naquele ponto da camioneta apenas existo eu e apenas eu, as folhas vão ficando preenchidas e os minutos vão-se gastando. Por uma fração de segundos olho para o relógio, estranho o facto de o motorista ainda não ter aberto a porta. Retiro o papel com o horário e num ato de iliteracia não o interpreto corretamente. Aliás não o fizera o dia todo, tal a vontade que não terminasse.
Finalmente, a dada altura a porta do minibus lá se abre. Apenas eu e um Sr. nos dirigimos para lá.
“Um bilhete para Portalegre, por favor.” Peço com a minha habitual simpatia.
“Esta camioneta não vai para Portalegre.” Responde o motorista prontamente.
“Ai vai, vai.” Respondo eu, enquanto procuro o horário na mala. (Toda a gente sabe como são as malas das senhoras).
“Não vai não. Vai para Alcácer do Sal. Hoje já não há camioneta para Portalegre. A última partiu às dezasseis horas.” Responde, tentando disfarçar o sorriso.
“Como? (acalma-te Lúcia deve haver uma solução. Bebo um gole de água fresca.) Como vou para casa? Sabe se ainda há algum expresso?”
“O último é às dezanove horas.” Responde
Consulto o relógio e vejo que tenho cerca de 45 minutos para chegar a Sete Rios. Sem saber explicar a minha primeira reação é rir.
“Bem, de metro não chegas lá a tempo. Olha, vamos tentar de táxi.”
Entro no táxi. À medida que vai saindo do parque de estacionamento vou explicando ao motorista a minha necessidade de chegar antes das dezanove horas. “É o último expresso para Portalegre”. Por entre as filas intermináveis de carros o taxista vai torneando um e outro veículo. Às dezoito horas e quarenta e cinco minutos chego à bilheteira. O roncar dos motores dos vários expressos que dentro de minutos partirão com seus passageiros ecoa pelo pavilhão. Suspiro de alívio. Mas foi um suspiro de curta duração. Olho para as bilheteiras, em qualquer uma delas tenho umas dez a quinze pessoas à minha frente. Ao que parece um problema nas comunicações do serviço multibanco será responsável pela demora na venda dos bilhetes. O último expresso para Portalegre parte quando tenho apenas duas a três pessoas à minha frente.
“E agora Lúcia? Porque não consultaste o horário com atenção? Andaste a passear como se não houvesse horários. À hora que deverias estar a entrar na camioneta, estavas no jardim a comer um gelado… e agora? Agora pensa!” Dialogo comigo mesma. (Bebo um gole de água fresca).
“Por favor ainda há algum expresso para Castelo Branco? E para Évora? Ah é verdade! E para Elvas? Então quero um bilhete para Elvas.”
À hora de embarcar sou das primeiras a entrar não vá por algum desígnio Divino perder transporte de tal dimensão. Já sentada, descalço os sapatos, riu de todas as peripécias.
“Oh mano, perdi os expressos todos, podes ir a Elvas buscar-me?” Peço entre gargalhadas que fazem sorrir todos o que se encontram sentados em meu redor.
O autocarro já acelera na autoestrada quando dou por mim a refletir sobre o dia passado. Sobre a importância de estarmos connosco mesmos. Sobre encontros, reencontros e desencontros. Sobre as encruzilhadas da vida. Durante um dia fui apenas responsável por mim mesma e estive na companhia das minhas vontades.
Refletindo depois de o dia ter chegado ao fim, no aconchego do meu sofá, concluo que por diversas razões acontece sermos seduzidos pelo brilho do caminho já desbravado. E fazemo-lo, ou por temermos a solidão das consequências das nossas decisões, ou porque procuramos uma bengala que nos guie e nos ampare a queda caso as pernas se enleiem nas decisões que tomamos. Infelizmente deixei-me ofuscar pelo brilho do caminho desbravado e rejeitei O copo de água fresca que me foi gentilmente oferecido por alguém que percebeu, primeiro do que eu, que aquela viagem a Lisboa iria representar para mim muito mais do que isso.
Estou tolamente feliz por esta jornada ter sido minha e só minha. Pelos vistos, algures entre o trajeto Portalegre – Lisboa tinha à minha espera o tal copo de água fresca que me tinha sido oferecido e que me foi saciando na viagem. Como peregrina que me sinto guardei-o onde guardamos os valores que consideramos preciosos. Neste dia apenas molhei os lábios pois o caminho é feito de muitas etapas.

Lúcia Gonçalves (novembro / 2015)

domingo, 15 de novembro de 2015

Novo romance "O Monte das Tílias"

Após alguns meses de "silêncio" venho reatar o nosso contacto partilhando a novidade que a apresentação do meu próximo romance está para breve. 

Irei dando notícias.

Boas Leituras